O livro em suas mãos, caro leitor, composto de 240 sonetos, é o oitavo de Nauro Machado a se valer apenas dessa forma de composição poética, dando seguimento a uma porção da obra em que sua dicção insiste em pronunciar-se, a um só tempo, pela anuência e pela dissolução métricas e rítmicas. Tal insistência, assim, não apenas alumia a língua, ao revelar surpreendentes associações entre sons e sentidos, como também traz outra vez à cena o silêncio inevidente sob as palavras lidas. Em campo ampliado, os versos de O baldio som de Deus, distribuídos pelas oito subdivisões que o ordenam, modulam semanticamente tanto os sonetos de O cirurgião de Lázaro, de 2010, quanto os poemas de Percurso de sombras, de 2013. Sem prejuízo à marca temporal de um ofício que se vem tecendo de maneira ininterrupta desde Campo sem base, de 1958, alargam e aguçam ainda mais a recorrência dos temas pelos quais o poeta se põe a mentalmente compor e, depois, escrever. De sua parte, os desenhos de João (...)