Raul de Leoni começou a publicar os seus poemas em um momento em que a poesia brasileira lutava para se desligar do passado, sem ter ainda perspectivas de futuro. O simbolismo estava exaurido, o modernismo ainda não se manifestara. Neste claro-escuro, o poeta lançou a plaquete Ode a um Poeta Morto (1919) e, no ano da Semana de Arte Moderna, Luz Mediterrânea. A coincidência de datas não tem nenhum significado. Os projetos poéticos de Raul de Leoni estavam muito longe da aspiração dos modernistas. A sua poesia clara, harmoniosa, clássica, pagã, em sintonia com os ideais de beleza grega e de força romana, assemelhava-se mesmo à luz mediterrânea, mas uma luz prestes a se apagar, símbolo de uma era que ia ficando para trás. A propósito, Tristão de Athayde observou que "ele dizia, por todos nós, a despedida harmoniosa a um mundo que desaparecia no horizonte. Ele foi o incomparável intérprete dos nossos adeuses a Epicuro".O próprio poeta estava preso a um mundo que se despedia. Natural de Petrópolis, RJ, (1895), Raul percorreu a Europa, antes de ingressar na Faculdade de Direito. Por essa época, era um rapaz forte, alegre, másculo, amando a vida ao ar livre. Desportista, detentor de vários títulos e medalhas, era assíduo também à boêmia literária, que se reunia nos cafés da Lapa. Nomeado pelo presidente Nilo Peçanha, seu padrinho, ingressa na carreira diplomática, da qual se desliga em pouco tempo. Pouco após a sua eleição como deputado estadual, começa a sentir os primeiros sintomas da tuberculose, que o matou aos 31 anos. Luz Mediterrânea teve uma excelente receptividade. A crítica ressaltou o aristocracismo do livro e o fato de ser um dos raros poetas brasileiros "de emoção puramente filosófica". Durante muito tempo, os sonetos de Leoni, como “Eugenia”, eram obrigatórios no repertório dos declamadores. A voz do povo é uma forma de imortalidade.