Um dos principais legados do pensamento sociológico de Max Weber é, sabidamente, a discussão a respeito das raízes judaicas e cristãs do racionalismo ocidental. A contribuição do presente livro consiste em mostrar que essa discussão tem se desenvolvido nos marcos de uma concepção teológica cristã que, nas últimas décadas, tem sido crescentemente rejeitada no interior do próprio pensamento cristão. Trata-se da "teologia da superação", assim chamada por postular que o sacrifício redentor de Cristo tornou o judaísmo obsoleto porque universalizou o acesso à graça divina outrora restrito ao povo de Israel. O apóstolo Paulo, com seu trabalho missionário, teria sido o grande arquiteto dessa postulada universalização... Embora fundamental para a imagem que o cristianismo construiu a respeito de si próprio nos quatro primeiro séculos de sua existência, e aceita sem reservas por teólogos cristãos de todos os matizes até o final do século XIX, a "teologia da superação" passou a ser revista no interior do pensamento cristão já na primeira metade do século XX. Nesse sentido, argumentasse, quando se trata de discutir o modo como o mundo (ocidental) moderno assumiu a feição que se lhe tornou peculiar, o pensamento sociológico se mantém irrefletidamente absorvido em uma concepção teológica que há décadas é objeto de severo escrutínio crítico no próprio terreno teológico...