Médica de hospitais, pediatra, neuropsiquiatra, psicanalista, membro fundador da École freudienne de Paris, Jenny Aubry (1903-1987) foi a primeira, na França a se interessar pelo destino das crianças que, muito pequenas, eram separadas de suas famílias. Já em 1946, ela tivera consciência do efeito desastroso da carência de cuidados maternos ao assumir a direção de um depósito de Assistência Publica - a Fundação Parent de Rosan - onde eram abrigadas sessenta crianças muito bem tratadas por enfermeiras que cuidavam apenas da saúde dessas crianças e da limpeza local. Privadas de fala, de afeto e de desejo, elas soltavam grunhidos, permaneciam imóveis durante horas, lambiam as grades das camas ou arrancavam os cabelos. Jenny Aubry demonstrou que essas crianças sofriam de problemas psíquicos que as condenavam à delinqüência, ao autismo ou à loucura. Era preciso, portanto, fazer com elas um trabalho de psicoterapia precoce, único capaz de salvá-las da prisão no silêncio e no nada. A idéia era nova e subversiva. Hoje se impôs em todas as instituições hospitalares. Em 1963, prosseguindo sua luta em favor das crianças separadas, Jenny Aubry criou, no Hospital das Crianças-Doentes, a primeira consulta de psicanálise num serviço de pediatria. Reuni aqui os principais estudos clínicos realizados por Jenny Aubry entre 1952 e 1986, destinados aos clínicos da infância em desamparo: psicólogos, educadores, assistentes sociais, médicos, psiquiatras. Redigidos num estilo incisivo, gerados por uma soberana esperança, eles mostram que, para a criança, mesmo vítima das piores feridas da alma e do corpo, nada nunca está decidido de antemão.