Freud inventa novos conceitos. Não e pouco o que ele faz. Inventar conceitos e retirar o pensamento do nível da opinião e forçá-lo a ir além dos limites que lhe foram impostos anteriormente. E Freud e indiscutivelmente um inventor. Inventa um novo corpo e uma nova alma. No entanto, o mundo da cultura teme o novo. Seu primeiro impulso e frequentemente o da recusa; o segundo e o da tentativa de sua pré-inscrição no saber já constituído. E vários foram os conceitos freudianos que sofreram essa recusa ou que foram reduzidos a outros já existentes em outras ciências. Este foi o caso do conceito de pulsão (Trie). Ou lhe foi negado qualquer valor explicativo, ou teve recusada a sua novidade, sendo identificado a noção de instinto. A redução da pulsão ao biológico foi um dos mais lamentáveis desvios impostos a teoria psicanalítica. Essa redução, embora grosseira, encontra um frágil apoio na tradução feita por James Stacey do termo alemão Trie para o inglês Instinto, o que abre espaço para uma interpretação “intensivista” e portanto biologizante da teoria psicanalítica. Para o leitor brasileiro, esse equívoco e reforçado pela tradução feita de uma importante passagem de Pulsões e destinos da pulsão, na qual o sentido do texto original e invertido.1 O texto na edição brasileira diz: “Se agora nos dedicarmos a considerar a vida mental de um ponto de vista biológico, um instinto nos aparecera como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático…”2 A tradução correta seria: “Se agora abandonamos o aspecto biológico e passamos a consideração da vida anímica, a pulsão nos aparece como um conceito fronteiriço entre o anímico e o somático…”