Georges Perec nasceu em 1936, na cidade de Paris, onde viveu a maior parte de sua vida, e morreu em Ivry, 46 anos depois. Seu pai lutou na Segunda Guerra Mundial, sendo morto em 1940, e sua mãe morreu em Auschwitz. Perec, órfão aos cinco/seis anos, foi criado por parentes próximos. Ele viveu só, angustiado e saudoso, buscando alguma memória do pouco convívio que teve com a família. A contingência imposta pela História diante do fracasso humano em conviver com o outro – o diferente, o estranho, o judeu – fez o autor brincar com um suposto controle matemático na literatura. O jovem traumatizado passa a tentar controlar o incontrolável. Sua perda, sua dor e sua saudade exacerbam esse esforço descomunal por compreensão. Perec cria um mundo particular e obsessivo para não lidar diretamente com o trauma – com a imagem sempre presente da ausência de seus pais – e usa a matemática e os jogos buscando colocar a literatura em um lugar sem conexão com a dor.