Em seu primeiro romance, Luiz Ruffato busca desvendar São Paulo. Não apenas a metrópole com seus engarrafamentos, seus parques, ou o dinheiro correndo por entre os conglomerados econômicos. Ruffato decifra a cidade que está estampada todos os dias, minutos e segundos em nossa frente. Uma cidade rasgada pela diversidade humana, mosaico composto por gente de todos os lados do Brasil e de todas as classes sociais existentes e inexistentes. Gente perdida num anonimato interminável como exige o viver em São Paulo. Casais desfeitos, crianças roídas por ratos em barracos imundos, gente assassinada em seqüestros relâmpagos, vendedores ambulantes, velhos sem mercado de trabalho, famílias vivendo aglomeradas em caixas-apartamentos, pastores pregando em praça pública, pedintes, vendedores de balas, assaltantes, motoristas de táxi contando suas vidas aos passageiros, recordações da vida boa do interior deixada pra trás em nome do dinheiro e da sobrevivência. Os quadros se multiplicam e de desdobram. Como se a escrita de Ruffato retratasse um dia nas vidas de São Paulo. A linguagem fragmentada reflete a correria da maior metrópole da América do Sul. Cada mudança de história parece uma simples piscadela para o tempo impossível de São Paulo. Os muitos personagens não se encontram. O emaranhado de suas vidas escorre sem que ninguém, a não ser eles mesmos, tome conhecimento disso. A ótica não é a do expectador, mas a do próprio personagem, o que torna o livro singular. Ruffato costura em 152 páginas histórias de gente que vemos todos os dias, perdida por diversos pontos da cidade buscando menos um motivo e mais uma maneira de sobreviver. Um olho mágico bastante revelador do grande rebanho anônimo que vive desgarrada e desesperadamente em São Paulo. Do qual ninguém mais sabe nome, pelagem ou origem.