Desde a sua estreia poética, em 1958, com Campo sem Base, o maranhense Nauro Machado (São Luís, 1935) optou por um caminho muito pessoal. Em vez das experiências de vanguarda, abundantes à época, preferiu a "revalorização do verso, renovando, por dentro, o amplo espectro da chamada 'tradição da imagem'", conforme observa Hildeberto Barbosa Filho no prefácio Melhores Poemas Nauro Machado. Angustiado com a precariedade da vida, os mistérios da morte e de Deus, os problemas do sexo e da solidão, a fragilidade dos valores humanos, a poesia de Nauro representa um esforço de libertação, em busca da plena realização do espírito. Essa busca, porém, nunca se desvincula da própria busca da poesia: "eu quero e é necessário/ que me sofra e me solidifique em poeta,/ que destrua desde já o supérfluo e o ilusório/ e me alucine na essência de mim e das coisas". Poesia metafísica? Talvez, como sugerem versos como esses: "Eu fui há muito alguém que agora tenho/ voltando apenas neste corpo alheio". Mas também uma poesia preocupada com a posição do homem no mundo, as relações, por vezes ásperas entre as criaturas, e o lugar do poeta, o que gera novos conflitos íntimos: "nasci para habitar no coração do universo/ e não nesta casa onde o verme resiste/ até mesmo no último parafuso de meus ossos". Sombria, identificada com as inquietações mais perturbadoras do poeta, a poesia é também, para ele, "um caso de vida ou morte", e uma presença obsessiva, como comprova a sua vasta produção. São mais de trinta livros, batizados com alguns dos títulos mais instigantes e felizes da poesia moderna brasileira: Os Parreirais de Deus, Masmorra Didática, A Rosa Blindada, Mar Abstêmio, Funil do Ser, que reforçam a observação de Franklin de Oliveira de que o poeta "cavalga a poesia como quem monta cavalos incendiados. Não a traspassa a luz. Atravessa-a a labareda". Desde os títulos.