Este livro é a criação de um novo Evangelho, de uma religião híbrida, como sua estética literária, que assistimos ser mexida dentro de um caldeirão. Dentro de uma cumbuca. Pelas mãos das primeiras mulheres convocadas, as mulheres que abrem esta obra e que nos indicam: isso aqui é também sobre ancestralidade. Ancestralidade, memória, rejeitar o esquecimento. Lutar para que nada seja apagado. Nem o grito, nem o choro, nem a risada. Porque este Evangelho segundo a Serpente é um livro muito bem-humorado. Talvez sarcástico. Escrito por mãos zombeteiras. É um livro capaz de jogar com o Velho Testamento e a Velha Religião, juntá-los, transformar um velho capitão de uma arca em uma mulher que bebe nua em sua tenda. É uma obra que coloca nome de mulher a cada contagem de arcano. Contar o tarô com Natalia Amoreira é uma experiência sensorial. Entre prosa e poema, o corpo se arrepia, o âmago se emociona. Muitas vezes o que vem é dor, puro sofrimento. A autora é precisa em denunciar (...)