Natalia é uma mulher velha, muito velha, que passa os dias reclusa em seu apartamento à espera de telefonemas da filha que mora em outro país. Viúva e última sobrevivente de um grande grupo de amigos, ela carrega os seus queridos humanos como um buquê íntimo de desaparecidos, companhias invisíveis que povoam a casa a partir de suas memórias. Vicente, companheiro de Natalia, era professor de geografia e foi perseguido pela ditadura. Sarah, sua melhor amiga, era uma mulher de temperamento impossível e dona de uma loja de biscoitos. Jorge, um morador de rua, lia cartas prevendo o futuro e recebia doses de Campari em troca. Natalia vive a solidão passeando entre a janela da sala e a mesa da cozinha, às vezes preparando torradas com geleia que a transportam para cenários vívidos em torno dos quais a vida acontecia. Ela sabe que existe mais novidade no que passou do que no presente e que, portanto, cultivar aquilo que ficou para trás é uma forma de se mover, ainda que parada.