Freud inventou o dispositivo analítico e descobriu o inconsciente. Lacan, em seu retorno a Freud, se propôs a repensar a experiência inventada por Freud para, ao longo de seus trinta anos de ensino, reformular sem cessar seus conceitos até "reinventar o Inconsciente". Neste livro, Colette Soler interroga "a trajetória de Lacan analisante da psicanálise e todas as consequências na direção da análise", colocando a ênfase na parte final dessa longa travessia. Trata-se não mais do Inconsciente estruturado como uma linguagem e, portanto, simbólico, e sim do Inconsciente real como "elucubração de lalangue". Esta lalíngua (conforme tradução de Haroldo de Campos), ou alíngua, é um termo novo de Lacan que evoca a lalação, aquela língua que a criança fala antes mesmo da linguagem, composta pelo que ela recebe como aluvião das equivocidades da língua materna. A lalíngua de que o Inconsciente real é feito é da ordem do gozo e está para além do sentido. É ela que traumatiza por suas ambiguidades e pela maneira como foi ouvida e se condensa na letra como sintoma. Colette Soler nos faz acompanhar a transformação radical que provoca esse conceito na constelação das referências já habituais para o psicanalista lacaniano. Assim, acompanhamos os desenvolvimentos teóricos e as repercussões clínicas do sintoma "analfabeto" aramatical, o Nome-do-Pai em sua função de enodamento dos três registros (R, S e I), a questão da identidade e da identificação, a satisfação do final de análise, o passe e a historisterização da análise, a reconsideração do afeto como índice de gozo e a perspectiva da história como verdade mentirosa. Aliando uma linguagem clara e prazerosa ao rigor teórico, este livro permitirá ao leitor de Lacan uma bela travessia pelas letras do Inconsciente real.