A história do cangaço brasileiro ganhou o imaginário popular como poucos outros casos de revoltas populares na História do Brasil. Lampião, o grande responsável por tirar o movimento do sertão profundo e levá-lo para os jornais das grandes cidades, soube valer-se dessa grande invenção que se popularizou no início do século XX: a fotografia. Através dos registros fotográficos, feitos, num primeiro momento, por fotógrafos ocasionais espalhados pelo sertão e, depois, pelo libanês Benjamin Abrahão - autor da série mais significativa dessas imagens -, o cangaço ganhou as páginas dos jornais e a imaginação popular. Com as notícias, que se produziam ora enaltecendo os feitos de bravura, ora narrando enfaticamente a crueldade dos crimes dos cangaceiros, as personagens dessa história foram se encorpando no imaginário do povo. Daí para as canções populares, os cordéis e as lendas sertanejas foi um pulo. Reunir essas fotografias com qualidade gráfica e sistematização é produzir, além de um documento para a posteridade, uma nova chance de avaliar a importância histórica desse movimento. As fotografias, sobretudo as de Benjamin Abrahão, revelam detalhes das vestimentas, pormenores do cotidiano, costumes e hábitos disso que se convencionou chamar de estética do cangaço. Da riqueza estética ao interesse histórico, este livro propõe uma reflexão sobre o papel da iconografia para a criação de mitos populares, e como, a partir dela, o povo opera seu próprio imaginário de construção de um mito. Por fim, um brinde ao leitor: o DVD que acompanha o livro traz imagens em movimento produzidas por Benjamin Abrahão, agora numa nova montagem feita por Ricardo Albuquerque, que privilegia as cenas tematicamente e foge à caricatura impressa ao filme Lampião: o rei do cangaço, que reuniu em 1955 as imagens censuradas no final da década de 1930. Além de uma nova montagem, esta nova edição traz também aproximadamente 5 minutos a mais, recuperados, em 2002, pela Cinemateca Brasileira.