"A Poesia de António Oliveira Cruz corporiza e configura uma das mais belas, grandiosas e fecundas sínteses de expressão estética da Literatura Portuguesa, ao combinar, de modo original, harmonioso, interactivo e criativo, inspiração, vibração, versatilidade, ritmo e melopeia, aos mais diversos níveis da concepção, da tematização e da expressão. Síntese em que "dialogam", em constante co-implicação, finitude, transcendência e infinito, numa incomparável "miscigenação" do género épico, com o lírico e o dramático, este último, em sua agónica e abismal expressão trágica, sempre, porém, com a presença serena da "Morte" por si perspectivada e integradora. mente assumida e enfrentada numa optimista postura de superação criadora, celebratória e jubilante, projectada para o triunfo final da Vida e do Destino do Homem, rumo à Imortalidade e ao Divino...Conscientemente convicta de que "o que mais valeu / nesta feira de enganos /...foi o ser poeta!...", pode a "persona" poiésica de Oliveira Cruz desejar, com plácida legitimidade e imperturbável destemor: "quando anoitecer / quero que a vida em mim morra / ... graciosamente!...". Porque, na pura e alumiante brancura verdade, o que é ser poeta / senão cantar no que morre / o que sempre vive?!... Sim, o que é ser poeta senão fazer de "cada morte / um mais pleno / amanhecer" e "pensar a morte / como o infinito", no pressuposto de que "o fim não é ser fim / é estar sem começo / mesmo onde se termina"?!...Daí, em sintonia com Hölderlin, a sua inabalável convicção: "mesmo que eu morra / e comigo o próprio mundo / ... fica a Poesia!"...