O púcaro búlgaro, último romance de Campos de Carvalho, pode ser tomado como a síntese de sua obra absolutamente original e idiossincrática: no verão de 1958, enquanto visitava tranqüilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, um cidadão chamado Hilário avistou um púcaro búlgaro. Espantadíssimo, embarcou - ao lado de Pernacchio, Radamés, Expedito e Ivo Que Viu a Uva - numa jornada à Bulgária, a fim de comprovar a (in)existência desse país. "Do que se passou e sobretudo do que não se passou nessa expedição já famosa é o relato que se vai ler em seguida", explica o narrador, "o mais pormenorizado e o mais honesto possível, embora tenha sido reduzido ao mínimo para que pudesse caber num só volume e mesmo num só século - o que afinal se conseguiu." A narrativa é um exercício - e também uma aula - de humor e escrita, com doses de surrealismo e um texto formado por relatos que beiram a esquizofrenia e parecem não levar a lugar nenhum, mas acabam por formar uma obra "fluente em sua descontinuidade". Após este romance, lançado originalmente em 1964, Campos de Carvalho, apesar de celebrado no meio literário (Jorge Amado afirmou que sua literatura "tem uma força danada") não voltou a publicar qualquer obra. Por muito tempo esquecido, tornou-se um cult nos anos 1990, e hoje, finalmente, alcançou - após a magistral adaptação para o teatro de O púcaro búlgaro realizada por Aderbal Freire-Filho, que assina as orelhas desta edição - um mais que merecido status de clássico brasileiro.