"Colonialidades: governos, gentes e territórios na América ibérica (sécs. XVI-XIX) é obra coletiva e assemelhada a um caleidoscópio no qual é possível enxergar a riqueza e diversidade das sociedades coloniais e pós-coloniais no chamado Novo Mundo. Sob vários ângulos e reflexos, observa-se a fricção de identidades, trajetórias, estratégias e territorialidades que ensejaram formações históricas nascidas da confluência entre as heranças política e cultural do Antigo Regime ibérico, com suas monarquias compósitas, e as experimentações ameríndias e africanas em contexto colonial. O governo e o exercício da soberania portuguesa e espanhola são, pois, os objetos centrais a serem tratados nas páginas que se seguem, tomando como mote suas múltiplas dimensões e agentes na fazenda, na justiça, no militar. Os temas da comunicação política, dos contatos interétnicos e do autogoverno alinhavam as análises desses jovens historiadores e os afinam ao que há de mais inovador na recente produção dedicada ao chamado Estado moderno, superando a realização de uma história política factual, afeita aos grandes nomes e heróis nacionais, e, a rigor, carregada de anacronismos. A nova história política e seus contatos transdisciplinares, sobretudo com a antropologia interacionista, fundamentam estudos sobre a institucionalização dos espaços de autoridade, considerando a conciliação, quase sempre conflituosa, entre formas culturais indígenas, a matriz católico-escolástica e a presença da escravidão. Nesses processos nenhum pouco lineares, os choques e as disputas pelo poder se faziam diariamente presentes, ao passo que a negociação era um princípio fulcral sem o qual jamais o domínio ibérico teria se prolongado por tanto tempo. As fronteiras dos atuais países americanos se constituíram a partir desses limites tão tênues, entre a norma e a prática. Em Colonialidades: governos, gentes e territórios na América ibérica (sécs. XVI-XIX) fica ainda evidente o amadurecimento da historiografia dedicada ao tema, especialmente na consideração dos espaços coloniais e seus legados pós-coloniais. Pesquisas refinadas são expostas aqui e constituem um convite ao leitor interessado em compreender o cipoal histórico que, em múltiplos cruzamentos, torna o Velho e o Novo Mundos tão distantes e tão próximos entre si. Se a história é um país estrangeiro, como apontou Peter Burke, o conhecimento dessa alteridade colonial largada nos primórdios da modernidade, entre os séculos XVII e XIX, é também um percurso doloroso de autoconhecimento sobre culturas políticas, fronteiras e povos que integram a nossa América"