Dois mundos, conhecidos há muito, definem os contornos do livro.Em um deles, o poeta, impulsionado por suas afinidades, revê a ampla obra e elege um conjunto de poemas que transmitem a serenidade do presente alcançada por sua própria dispersão nas coisas do mundo e nas sombras da memória. Poemas de que gosta e dos quais se serve para indagar uma vez mais objetos com que convive, pessoas que não lhe permanecem anônimas, pois se tornam ossos e vozes que o habitam e o fazem ouvir. No outro mundo, o pintor, desmedido por seus autorretratos, recebe o poeta em seu ateliê e se põe a traduzir a linguagem de seu domínio em traços que gravam o metal com nova escrita, enxáguam de preto e luz o papel, e encontram o ritmo que os torna cores e sons. Despertos da leitura silenciosa de outrora, gravuras, nanquins e guaches materializam também cenas e figuras de um compósito que se quer autônomo em face do que mesmo o pintor conhecia de sua pintura. Não se está só. Há bruma no afago das mãos. Páginas e dobras cedem à musculatura e à pele vértebras e música. Desfolha-se o que ainda não se conhece. Apenas o leitor saberá do que se tramou no espaço ausente.