Imagens caóticas de formas e cores assaltavam os sonhos de Maria Sabina de Albuquerque. No interior de um losango crescia uma rosácea azul e vermelha, composição de pétalas que aumentavam de volume até quebrar os lados do losango, de cujos vértices pendiam, decompondo-se, rosáceas menores. Em explosões de tons de azul e vermelho, o conjunto metamorfoseava-se em castelos de nuvens, grandes como montanhas. Maria Sabina de Albuquerque acordava exausta. Saía da cama, ia beber água à cozinha, esforçava-se por afastar as imagens que a reenviavam ao dia aziago do suicídio de Fernando Correia Dias. Vira-o deitado no chão, já com a rigidez da morte, de olhos fixos no teto, de onde pendia, desarticulado, o candeeiro de ferro forjado a cujos braços o suicida atara a corda da rede de descanso com que se enforcara. A mulher tinha descido o corpo do instrumento de suplício, e a cabeça inerte ocupava o centro da rosácea azul e vermelha do tapete da casa de jantar.