Um escritor com seu livro debaixo do braço: Se houvesse um ser mitológico, misto de homem e livro, Bolívar Gomes de Almeida seria um exemplar autêntico. Para usar a hiperestesia, ele tem seus cinco sentidos voltados para a literatura: está sempre de olho em obras raras, gosta de tocá-las e, tenho certeza, as respira e conversa com elas. Quanto ao sabor, ele que o diga, desde criança é um devorador de livros. Assim, eu recomendo ao leitor que devore este livro, escrito por ele, imediatamente. Devore, converse com cada um dos seus contos, toque neles e sinta o perfume, mas não deixe de degustar, como um vinho raro, o seu bouquet. Popular na generosa ideologia, talvez por isso mesmo o autor seja culto e sofisticado em seu modo de escrever. Muito do que conta, o faz nas entrelinhas, confiando na cultura e inteligência do leitor. Mensagem cifrada, algumas vezes, mas sempre humana e real. Imagino Bolívar com este livro debaixo do braço e tenho que sorrir. É como um vendedor de flores que traz para o mercado uma rosa rara que ele próprio plantou. E fica em dúvida, embora viva do trabalho, se não será melhor guardá-la para sua mais íntima emoção. - Alcy Cheuiche Porto Alegre, primavera de 2016