Esse entrelaçamento pode ser conferido na antologia ''Cinema ou sardinha'', um lançamento da Gryphus Editora. Nas páginas da coletânea, está o melhor de Cabrera Infante, um memorialista, um fã de filmes capaz de mistura vida e ficção com um olhar, às vezes suave, sempre irônico, de uma pessoa que não pode imaginar um mundo sem filmes. A vida é possível sem sardinha, nunca sem cinema. "Só o cinema se tornou possível graças a um avanço tecnológico. Depende, é verdade, da imperfeição fisiológica que consiste na persistência na retina de uma imagem que já desapareceu - ou, com a invenção do cinema, que já foi substituída", analisa Infante em seu texto sobre a evolução da sétima arte. Cabrera não só analisa o surgimento do cinema em si mas de gêneros cinematográficos, como o faroeste: "Não há cinemateca que se preze que não tenha projetado O Grande Roubo do Trem, de Edwin S. Porter. É um curta, um filmeco que começa e termina com um cavalheiro de bigode e chapéu apontando para a câmera um Colt 45 e disparando seis balas à queima-roupa - contra o espectador, claro". Cabrera também reflete sobre o diálogo permanente entre a literatura e o cinema. Para ele, a despeito de sua origem como invenção visual, o cinema aspirou ao prestígio da literatura. O escritor recorda, por exemplo, que um dos grandes êxitos do cinema mundial, O assassinato do Duque de Guise (1908), saiu de um texto literário e teatral. Assim como as obras de Méliés, tão inventivo, baseou-se em adaptações de H.G. Wells e Julio Verne. E opina sobre os efeitos da dublagem sobre a obra original. “Isso mesmo, nasceu não em berço de ouro, mas com uma tela de ouro nos dois olhos. Devo saber o que estou dizendo, fui eu que nasci com uma tela de ouro nos olhos. A tela era a do cinema, e a primeira coisa que vi apareceu como fumaça nos olhos, uma imagem cinza e nublada como fumaça que passava não pela plateia, mas pela tela. Como sabemos, a visão do cinema está nos olhos de quem vê”. Para o escritor Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), a sétima arte era tão instigante quanto a literatura. Por isso, ele resolveu transpor para o papel todos os pensamentos sobre o cinema, num processo, na maior parte das vezes, inverso ao do que costuma acontecer. É o cinema inspirando a literatura. Uma paixão mesclando-se a outra.“Isso mesmo, nasceu não em berço de ouro, mas com uma tela de ouro nos dois olhos. Devo saber o que estou dizendo, fui eu que nasci com uma tela de ouro nos olhos. A tela era a do cinema, e a primeira coisa que vi apareceu como fumaça nos olhos, uma imagem cinza e nublada como fumaça que passava não pela plateia, mas pela tela. Como sabemos, a visão do cinema está nos olhos de quem vê”. Para o escritor Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), a sétima arte era tão instigante quanto a literatura. Por isso, ele resolveu transpor para o papel todos os pensamentos sobre o cinema, num processo, na maior parte das vezes, inverso ao do que costuma acontecer. É o cinema inspirando a literatura. Uma paixão mesclando-se a outra.