O poema é uma das mais obstinadas experiências da linguagem e uma das manifestações literárias que mais paralisa a crítica. Octavio Paz nos diz que na poesia a imagem resulta escandalosa porque desafia o princípio da contradição: o pesado é ligeiro. Nilton de Q é habitante deste paradoxo. Com faca afiada, ele, o poeta, deu no seu longo poema dois longos e profundos cortes, poema que é também prosa inflamada pela riqueza vocabular, para chegar à sutura. Apêndice desse tempo em suspensão, nem ontem, nem hoje, nem amanhã, ele explora nos dias mornos, numa terra que se tornou plana, as coisas que nos assustam e nos intimidam. No limite. Leitora destes versos, eu me vejo no planeta água ou no planeta animal: ora transbordo meu corpo na piscina, ora vislumbro o mar, ora tento respirar, ora percorro esquinas entre peixes, cavalos e elefantes. Não há humanos neste processamento dos dias. Só ele, o poeta lírico, dramático e épico. Por trás outras vozes como a de Drummond, a sabedoria do (...)