Depois da homenagem a Oswald de Andrade na Flip 2011 e da exposição Oswald: o culpado de tudo, no Museu da Língua Portuguesa, a Globo livros lança O Santeiro do mangue e outros poemas, dando início às comemorações dos 90 anos da Semana de arte moderna de 1922, completadas em fevereiro de 2012. Penúltimo título da obra completa de Oswald de Andrade relançada pela editora, o livro contém alguns dos mais importantes poemas do modernista, como O santeiro do Mangue, Cântico dos cânticos para flauta e violão, O escaravelho de ouro, Poemas menores, Canto do pracinha só, entre outros. O volume apresenta, ainda, textos assinados por Haroldo de Campos, Chico Alvim, Vera Maria Chalmers e Mário da Silva Brito. A supervisão editorial coube, mais uma vez, a Jorge Schwartz, professor titular em Literatura Hispano-Americana da USP e pesquisador do movimento modernista brasileiro, e o estabelecimento de texto a Maria Carolina Araujo. Recentemente, nas páginas do jornal Folha de S. Paulo, os poetas Ferreira Gullar e Augusto de Campos disputaram a paternidade da redescoberta de Oswald de Andrade nos anos 1950. Essa discussão relembrou alguns pontos, como a importância de Oswald na cultura brasileira contemporânea e o fato de, apesar disso, ele haver caído em certo ostracismo depois da efervescência da Semana de Arte de 1922, da qual foi um dos nomes centrais. Um exemplo disso é, justamente, O santeiro do Mangue (1930-1950): Texto marcado pela censura e pelo impedimento, e que só chegou ao conhecimento do grande público, pela mesma editora Globo que agora o reedita, sessenta anos após o início de sua composição. A audácia desse poema longo, marcado por uma linguagem sarcástica, violenta e transgressiva, impediu que ele circulasse como suplemento da revista Mirante das artes em 1967 e que fosse incluído nas Obras completas de Oswald de Andrade em 1971(Jorge Schwartz). Vale lembrar também que o livro é relançado no ano em que se comemoram noventa anos da Semana de Arte Moderna. Outra curiosidade: o Cântico dos cânticos para flauta e violão pode ser apontado como um dos mais modernos poemas de amor da literatura brasileira. Alternando o foco entre a amada e o mundo, e o tom entre o lirismo e a ironia, o Cântico é, ao mesmo tempo, ultrarromântico e antirromântico, como só um mestre do modernismo e da modernidade poderia ser. Oswald de Andrade é um daqueles artistas fundamentais que, com o passar do tempo, fica cada vez mais contemporâneo. O santeiro do Mangue e outros poemas ajuda a entender o fenômeno.