A literatura de Fausto Wolff é dura, contundente e detesta as boas maneiras. Está repleta de palavras de revolta, de pragas, de palavrões. E de situações equívocas. O escritor fala, sem volteios ou metáforas, de suas preocupações pessoais e sociais que, numa escala ascendente (ou descendente, quem sabe!), vão da ânsia pela bebida a sem-vergonhice que domina a política do país. A maneira direta de afirmar, sem papas na língua, como se dizia nos velhos tempos, fez de Fausto Wolff uma espécie de escritor maldito, olhado meio de lado pelos bem-pensantes, talvez aqueles que as suas farpas possam atingir. A repulsa de tal gente é quase uma consagração. Por outro lado, os que podem olhar a vida e os fatos de frente, sem temores, gostam dessa maneira rude, agressiva, sob a qual flui, quase imperceptível, uma intensa piedade pelas fragilidades e podridões do ser humano. Essa característica marca toda a sua obra de ficcionista espontâneo, vá lá o termo, que escreve as suas histórias "desordenadamente, como elas se apresentam no sonho, sem futuro e sem passado, apenas no presente", para usar as suas próprias palavras. Um presente representado com um certo espírito picaresco, bem em sintonia com a humanidade com a qual mais se identifica: "os excluídos, os humilhados e ofendidos, os que não aceitam a hipocrisia e a mentira, os que se revoltam", como observa André Seffrin no prefácio Melhores Contos. Reunindo nove histórias curtas, o livro constitui uma excelente introdução (para os não iniciados) ao universo de Fausto Wolff. Vale a pena conhecê-lo, para se encantar ou se chocar, amá-lo ou detestá-lo. Em suma, tomar uma atitude radical, como é de gosto do autor. O importante é que ninguém sai de suas páginas como entrou.