A epígrafe de João Cabral é uma via de entrada para urgências que não são, novo livro de Cristiano de Sales. A concisão formal e a densidade das reflexões cabralinas resultam numa chave de leitura que acentua a precariedade de nossas respostas ante os dilemas do mundo. Sem mitigar nossas utopias, Sales demonstra desde seu livro anterior (De silêncios e demoras, 2020) que um dos apelos da poesia contemporânea é compreender os lugares onde a vida se exprime em constante ebulição. Na rua, no centro da cidade, na feira, o olhar do poeta é atraído pela impermanência. Ao tentar capturá-la, sinaliza para outro mundo forjado para ser disperso. Dividido em sete partes que podem ser lidas como séries autônomas, ou como um conjunto dissonante urgências que não são radicaliza o interesse do poeta pelo fracionamento das experiências humanas. Os poemas não são um retrato do presente, mas são atravessados por alguns dos seus aspectos, de modo particular a pandemia de Covid-19. Por (...)