“Corpo, Cabeça” — numa manhã do começo deste verão, no Rio de Janeiro, mais um crime com requintes de crueldade sádica ocorre na cidade. Uma originalidade: desta feita dá-se em um conhecido motel da Barra da Tijuca. Quando dois investigadores da polícia iniciam seus trabalhos, descobrem que o crime une mundos diferentes, até então paralelos: as grandes finanças do país e a cena noturna carioca. Drogas, grandes financistas, “gente bacana”, mulheres trans, igrejas e policiais corruptos emergem numa imensa teia de conspiração e mortes. “Corpo, cabeça” é um parêntese na atual crise brasileira: uma pausa, para respirar, um momento de reflexão. O que ocorreu com as instituições brasileiras? Ao mesmo tempo aponta claramente para sentimentos coletivos, profundos, enraizados num inconsciente comum, sobre temas tornados superficiais, e muitas vezes tratados como banalidades. A violência cotidiana, endêmica, da sociedade brasileira contra toda diversidade – incluindo a cultura familiar do estupro – e a noção de que a corrupção é sempre um mal que atinge o Outro. O denuncismo transformado em gozo voyeur e esgotado em si mesmo, de forma inconsequente sem responder à questão básica: a quem serve a corrupção?