Como os habitantes da mítica Macondo de García Márquez, os homens sofrem de ciclos de esquecimento. Las Casas não desejava que a violência contra os indígenas fosse esquecida. Para isso denunciou as práticas que eliminaram grande parte da população nativa das Américas e propôs um Império Cristão sustentado na sua leitura religiosa. O texto de Las Casas adquiriu uma força tão extraordinária que seria correto considerá-lo o criador de uma versão solidificada do que teria sido a "conquista da América" pelos espanhóis. Associado ao poder imagético das gravuras de De Bry, a obra do bispo consagrou-se como um atestado duplo: de óbito para os indígenas e de nascimento para nossa civilização. Percorrendo o brilhante texto de José Alves de Freitas Neto, o leitor vai compreendendo os motivos do sucesso de Las Casas, as bases da sua composição, bem como a complexa trama que deu origem à imagem vitoriosa da conquista espanhola da América. Mais do que reforçar um suposto caráter panfletário do espanhol Las Casas, este livro instiga o leitor a pensar como se constitui a própria consciência que compartilhamos com o bispo célebre.