"A adaptação de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS fez mais do que dar ao romance baiano de Jorge Amado um tempero estrangeiro, pero latino, de realismo fantástico (o que seria uma banalidade apenas); deu a ele a dimensão de mitologia pura. É isso, aliás, que sustenta o exagero central da adaptação, o de misturar automóveis dos anos 70 com telefones dos anos 90 e roupas de sabe-se lá quando: na mitologia de Dona Flor, a mulher que resgata o marido da morte, o tempo já não importa, já não passa, mas permanece ali, como um oceano. O recurso da eternidade forçada resultou especialmente poderoso na televisão, que tem por natureza o poder de não deixar morrer o passado. É uma delícia entregar-se ao torpor, quando Giulia Gam (a Flor) aparece sorrindo, encabulada, a um Marco Nanini como farmacêutico Teodoro, a um elenco bem distribuído. E assim é Donna Flor, uma baiana antiga, muito antiga, que não esmaece nunca. Oxalá, meu pai. Que Vadinho, que nada. Somos todos seus maridos".