Rogério Paes Henriques interpreta o caso Schreber por meio de uma análise comparativa e intertextual envolvendo as Memórias de um Doente dos Nervos (1903), de Daniel Paul Schreber, e os trabalhos de Karl Abraham a respeito da psicose, partindo da idéia de que o texto freudiano só pode ser plenamente compreendido em seu diálogo com o contexto histórico da época em que foi redigido. Para tal, recorre à vertente da teoria literária contemporânea conhecida como novo historicismo, tendo em vista o resgate da historicidade da produção freudiana. A abordagem proposta situa o trabalho na interseção entre a psicanálise, a crítica literária e a história das idéias, definindo-se, em termos metodológicos, a partir dessa tripla perspectiva. O autor dialoga com a literatura disponível sobre o caso Schreber, com ênfase em sua releitura lacaniana, e apresenta sua contribuição: mostrar na narrativa de Freud as características (paranóicas) às quais ele mesmo se dedicava naquela época, tentando extraí-las de Schreber.