A obra de Fernando Pessoa é escrita (sê-lo-ia até o fim de sua vida, embora muito cedo deixasse de ocultar a simulação) ora em seu nome, ora em nome de autores fictícios; e não se trata de pseudônimos, trata-se antes (insiste Fernando Pessoa) de heterônimos, quer dizer, de individualidades que devem ser consideradas distintas da do autor delas. É o caso de Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. A obra de Caeiro representa a reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos, que viveram nele e por isso não o pensaram, o puderam fazer. A obra, porém, e o seu paganismo, não foram pensados nem até sentidos: foram vindos com o que quer que seja que é em nós mais profundo que o sentimento ou a razão.