Os evangelhos, canônicos ou apócrifos, escrevem coisas que o mestre não tinha intenção de escrever. São testemunhos internos e externos a um só tempo. François Kahn faz o mesmo com Grotowski, um dos maiores mestres do século passado. Testemunho: mártir (autoexposição total) e traição. Kahn acolhe o eco de uma presença e o traço de uma transmissão; é a contradição sem solução entre um sentido, perceptível e transmissível somente através da via do corpo, e uma escrita que desejaria representá-lo. Uma ajuda, não um texto sagrado, ou um manual de receitas, ou, menos ainda, um guia de turismo cultural, mas um saber que evidencia a complexidade da questão essencial: como tornar-se si mesmo. Por uma escrupulosa escolha de palavras e uma composição colorida e fluida, Kahn criou o que o professor sugeriu: um jardim, um belo jardim, não um dispositivo incensado do ego. Não é difícil prever que este Jardim, ao longo do tempo, terá numerosos e apaixonados leitores.