Numa bibliografia já bastante vasta sobre a obra desafiadora de Guimarães Rosa, novos estudos originais e consistentes são sempre bem-vindos e contribuem para enriquecer esse notável patrimônio literário e crítico.A novidade aqui é um ensaio, muito minucioso, sobre o Corpo de Baile, especialmente a primeira narrativa (´Campo geral´), que relata as aventuras, desventuras e o deslumbramento da personagem Miguilim. A providência crítica mais geral de Paulo César Carneiro Lopes é identificar, pioneiramente e com originalidade, que o menino Miguilim é, de fato, o Dr. Miguel que, adulto, será o narrador de todas as sete narrativas do livro.E o estudo de Paulo César também provoca o alumbramento e a iluminação dialética no seu leitor porque sua argúcia crítica é capaz de detalhar as tensões presentes na narrativa de Guimarães Rosa, desde a exposição das relações tradicionais das culturas sertanejas (seus valores, seus mitos, seus preconceitos, seu autoritarismo e brutalidade, seu machismo), a força do catolicismo popular e os horizontes da cultura citadina e letrada com suas promessas civilizatórias. Tudo isso e mais estão na narrativa estudada, abrindo caminhos insuspeitados de produção de sentido e de ilustração do leitor. Há aí um encontro novo para a descoberta e redescoberta do Brasil, velho e original a um só tempo.