O discurso de ouro de D. Loura busca afirmar a relação entre as práticas culturais e a vida dos sujeitos participantes do universo da cultura popular. Nessa perspectiva, o ato de narrar está na memória de lembranças, esquecimentos, silêncios e atemporalidades; ao mesmo tempo que na identidade fluida, repleta de mitos e crenças. Os relatos dos sonhos com botijas de ouro, externados por Neusa Fernandes Cavalcante, conhecida em sua comunidade, sítio Quintas Riacho de Santana/RN, por D. Loura, irrompem as tradições folclóricas de alguns moradores de seu entorno discursivo, para trazer à tona, juntamente dos tesouros enterrados, artefatos da vida cotidiana. D. Loura ecoa suas histórias mediante as experiências particulares e coletivas, invocando-as consciente e/ou inconscientemente. No intuito de mapear a voz narrada, busquei o método da história oral de Montenegro (2003) e Thompson (2002) e a técnica da história de vida de Queiroz (1991) e May (2004). Para entender a narrativa da colaboradora, revisei leituras sobre a cultura popular em Ayala e Ayala (2006), Ayala (2003), Garcia Canclini (1982; 2008), Marcuse (2001) e Xidieh (1976; 1993); as reflexões sobre o narrador, de Benjamin (1994); as abordagens acerca da memória em Bosi (1994), Halbwachs (2006) e Candau (2011); as proposições sobre identidade de Pollak (1992), Bauman (2005) e Hall (2006); e os estudos sobre sonhos, crenças, mitos e religiosidades, de Jung (1987), Rocha (1999), Eliade (2007; 2010) e Alves (1996). Ao aproximar o discurso de ouro de D. Loura aos conceitos de memória e identidade, fui conduzido ao mundo particular da informante. Por ele, o sonho se torna realidade à medida que a exposição onírica desenterra da vida o cotidiano, a família, as dificuldades, as adivinhações, os partos, as religiões e, por assim dizer, os traços coletivos do jeito único de ser e de narrar. Nesse sentido, o discurso analisado, repleto de outros discursos, configura um sujeito de personalidade sociocultural marcada [...]