Os dias, as horas, o que é preciso fazer nascer com as próprias mãos. O livro de estreia da Bárbara Gontijo se faz assim uma paisagem na neblina. Quando eu era pequeno, ouvi muito da minha mãe uma outra palavra para essa precipitação de nuvens: cerração. Elas não são a mesma coisa diferença mínima que toca a distância da visibilidade. Mas me lembro aqui dessa palavra porque esse livro faz reverberar a umidade, num clima seco, e fecha a vista sutilmente. Tudo, nessa instabilidade do que se pode ver, tenta dar nome, tenta acabar um poema, como quem acaba também uma história. Entre sumir e sonhar, esses poemas falam do que dói, do que seca a garganta para além da pele seca antes da neblina. Esses poemas também nos propõem respirar melhor, antes e depois da neblina. Como portar o outro, como responder pelo que ganharia esse nome desordeiro de amor, num mundo inteiro que é apenas um canto, um pedaço muito curto do que ocupa o corpo? me cerrando o corpo parece responder um dos versos. (...)