Ao contrapor as trajetórias dos críticos e historiadores Manuel de Oliveira Lima (1867-1928) e Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), Dois letrados e o Brasil nação faz muito mais do que iluminar etapas cruciais da formação de nossa crítica literária. Com raciocínio analítico rigoroso, Antonio Arnoni Prado traz à tona nexos extremamente atuantes no substrato cultural brasileiro, em que se defrontam arranjos retóricos conservadores, de um lado, e movimentos críticos libertários, de outro. Fruto de longa imersão na vida e obra dos autores de D. João VI no Brasil (1908) e Raízes do Brasil (1936), o livro acompanha passo a passo o percurso de cada escritor. No caso de Oliveira Lima, é admirável a reconstituição de sua mentalidade belle époque, seu eurocentrismo acentuado e a fixação pelo passado lusitano, que terá grande influência sobre Gilberto Freyre. Já em Sérgio Buarque, ressaltam a percepção do contexto latino-americano, a valorização de outras ancestralidades, os laços de afinidade e distância com os modernismos e, acima de tudo, uma atenção aguda para os aspectos de crise e ruptura, que lhe permite problematizar o presente e ler criticamente o passado. No quadro final, Dois letrados e o Brasil nação constitui uma obra ímpar de erudição, pesquisa e investigação literária, em que afloram concepções diametralmente opostas de história, cultura e nação, bem como dos papéis que cabem à atividade intelectual.Fruto de longa pesquisa sobre a vida e a obra de duas figuras fundamentais de nossa historiografia - Manuel de Oliveira Lima, autor de D. Joao VI no Brasil (1908), e Sergio Buarque de Holanda, de Raizes do Brasil (1936) -, o novo livro de Antonio Arnoni Prado e bem mais do que um estudo sobre a formacao de nossa critica literaria. Ao contrapor a trajetoria desses grandes intelectuais, Dois letrados e o Brasil nacao traz a tona concepcoes radicalmente distintas de historia, cultura e nacao, que continuam vivas e atuantes no debate cultural brasileiro.