Se tudo que é sólido desmancha no ar (Marx & Engels via Marshall Berman), se vivemos em tempos de modernidade líquida (Bauman), se Deus está morto (Nietzsche) e portanto tudo é possível (Dostoiévski), ou seja, se temos muitas dúvidas e nenhuma certeza, a poesia já é líquida há muito tempo, desde os tempos que abandonou as pretensões do absoluto e a totalidade de épico. Mas é líquida num outro sentido: num sentido, digamos, contra-hegemônico, contracultural. A poesia não vai na onda. Ao contrário: a poesia é a pororoca que desafia o fluxo milenar dos rios. É neste sentido que devemos entender estes Fluídos poéticos, estreia poética, porém madura, de Beatriz Ale. A poesia de Beatriz é fluída, sem medo de ser lírica, no entanto sem deixar de colocar uma ou outra pedra no caminho do leitor. Poesia de mulher, mas de mulher-poeta, não poetisa, ela parte de um lugar muito determinado: \u201cA mulher escreve o mundo pela janela da sua cozinha.