A lua vem da Ásia , publicado originalmente em 1956, marca o nascimento da narrativa surrealista de Campos de Carvalho. É o diário de um homem que se chama Astrogildo - mas já foi Adilson, Heitor, Ruy Barbo - e está hospedado em um hotel de luxo que, para o bem da verdade, talvez seja um campo de concentração ou um manicômio. A loucura é o tema central deste romance, cujo protagonista inicia o relato confessando que, aos 16 anos, matou seu professor de lógica e foi viver sob uma ponte do Sena... embora nunca tenha estado em Paris. Enfileirando recordações (ou seriam alucinações?) de suas passagens por Melbourne, Varsóvia, Cochabamba, Cuzco, Madagascar, Nova York, Cidade do México e, claro, Paris, Astrogildo torna-se o narrador de um mundo governado pela lei do absurdo, mas que parece assustadoramente semelhante à nossa normalidade cotidiana. "Não se surpreenda o leitor caso venha a se identificar, em mais de um momento, com esse insano andarilho, que candidamente se confessa falsário, ladrão, mentiroso, assassino e também vítima inocente da opressão universal, sempre movido, ao mesmo tempo, por compaixão e perversidade, sonho e miséria", escreve nas orelhas o poeta e crítico literário Carlos Felipe Moisés. "É o tipo de ‘herói sem nenhum caráter’, mas isso não quer dizer que seja... mau caráter: apenas cultiva aquele tanto do lado mau que lhe permite saber que existe o lado bom."