O título que Lucas Malkut dá ao seu livro de estreia guarda uma provocação inicial: o que a parte de um corpo pode falar sobre o corpo? E o que não está nele que também o anuncia? Em Barbatana, este jogo de presença-ausência parece desenhar as linhas com que o autor registra aquilo que fica de quem se dispõe a seguir com o movimento do mergulho. Dividido em quatro partes e intercalado por fotografias, alguns dos poemas possuem certa fisionomia de carta, introduzindo ao leitor a presença (ausência) de um outro, um você ou uma multidão a ser alcançada. Mas é no fugidio que reside a implicação literária aqui perseguida, como se para Malkut fosse uma sina capturar (com o corpo) o que é de natureza incapturável ou ainda como se, lambendo tudo que há contradição, desejasse tal condição. E este é o acordo: quero me misturar até ao que nunca vi. É assim que a voz em Barbatana, que ora assume o nome do próprio autor, atira, para destinatários incertos, senhas e imagens que ficam à deriva (...)