Se Descartes, o pai do iluminismo, inaugurou a separação entre a res cogitans e a res extensa, entre o "mundo inteligível" e o "mundo sensível", nos termos kantianos, reservando às ciências a inteligibilidade e às artes a sensibilidade, ele procedeu a uma distinção que a filosofia e a literatura, na verdade, nunca acompanharam. O próprio Kant, aliás, mostrou em sua Crítica da faculdade de julgar que o belo, oriundo do mundo sensível, escapa às presas do conhecimento científico, não deixando de ser digno, ao mesmo tempo, da reflexão filosófica. A literatura, por sua vez, não faz parte das "Belas Artes", não passa pela percepção visual e, todavia, só se torna inteligível quando o leitor é sensível, isto é, quando sua leitura não se limita à compreensão intelectual de uma escrita simbólica, mas se estende para a apreensão das palavras enquanto fenômenos.