O que há em comum entre a infância de Walter Benjamin na cidade de Berlim do final do século XIX e o recreio escolar de uma escola municipal no bairro do Butantã, em São Paulo? O que move o brincar infantil? Lançando mão de categorias como ´jogo´, ´socialização´ e ´mimese´, Tamara Grigorowitschs apresenta uma análise do brincar que aborda essas e outras questões, revelando o papel do jogo para os processos de socialização e de construção do self na infância. Características do brincar como a fantasia, a repetição e a abstração permeiam mimeticamente tanto o modo lúdico como Benjamin interage com os personagens fantásticos de sua infância – o “Corcundinha” ou então “o monstro que morava no fundo do prato de sopa” – , como também as brincadeiras de perseguição à “Loira do Banheiro” de uma turma de crianças do Ensino Fundamental I de uma escola pública paulistana.E quais seriam as diferenças entre essas duas modalidades de brincar na infância? Para além das diferenças culturais, temporais e espaciais, que sem dúvida revelam distinções significativas, Benjamin descreve o seu próprio brincar a partir da interação com objetos, seres fantásticos e pessoas adultas, mas não com outras crianças. A turma de crianças observada no recreio escolar, por outro lado, fundamenta o seu brincar também nas relações coletivas, na interação entre pares.