O que faz com que um bilhão de pessoas no mundo inteiro fumem diariamente, sabendo que isso faz mal à saúde? Encerrar a questão com o argumento de que é simplesmente um vício não contribui para remediar. Pelo contrário, pode até estimulá-lo, como demonstra o fracasso constante das leis para suprimi-lo. A atual campanha antitabagista, de repercussão internacional, é apoiada por governos que, ao mesmo tempo, oferecem subsídios à plantação do tabaco e estimulam sua comercialização. Tal incoerência fomenta sentimentos de censura moralistas, às vezes fanáticos, dissimulados pelos apelos à saúde. E, como a história mostra, o que não é saudável, quando amaldiçoado, torna-se irresistível. A partir deste insigth, Richard Klein escreveu Cigarros são sublimes e percebeu que o reconhecimento, sem medo, do fascínio e do prazer oferecido pelo tabaco é o primeiro passo para abandoná-lo. É primordialmente o caráter sublime dos cigarros, no sentido kantiano, que explica "o mistério de terem conquistado o mundo", como disse Cocteau. O cigarro é um componente crucial da modernidade. É exemplo, tema, tópico e até mesmo personagem das grandes obras do nosso tempo. Sua representação na filosofia, ficção, poesia, cinema e fotografia é marcante. Só depois de admitir isso, Klein liberta-se definitivamente da nicotina. Ao discorrer sobre a história cultural do tabaco, o autor torna este livro necessariamente uma crítica literária, uma análise da cultura popular, uma arenga política e um brilhante exercício teórico.