Gota d'água é uma Medéia moderna e brasileira. Os talentos de Chico Buarque e Paulo Pontes se reuniram para revitalizar o texto clássico de Eurípedes, escrito quase meio milênio antes de Cristo, submetendo-o a uma injeção de nossa realidade urbana.Gota dágua, que a Civilização Brasileira relança com novo projeto gráfico, pode ser considerada uma Medéia moderna e brasileira. Os talentos de Chico Buarque e Paulo Pontes se reuniram para revitalizar o texto clássico de Eurípedes, escrito quase meio milênio antes de Cristo, submetendo-o a uma injeção de nossa realidade urbana. Joana, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional apaixona-se pelo sambista Jasão, que desponta para o sucesso com uma música chamada Gota dágua. Creonte é o todo-poderoso do local, dono das casas, muito rico, o poder corruptor por excelência. Alma, sua filha, é uma burguesinha metida. O coro tradicional dos gregos é, nesta obra, composto pelas vizinhas de Joana: enquanto lavam roupa, desenrolam o fio da história, que culmina em tragédia. A tragédia original versa sobre o amor da maga Medéia pelo herói Jasão. Ela foge com ele, tornando-se sua mulher e dando-lhe dois filhos. Mais tarde, Jasão, por conveniência, abandona-a para desposar a filha de Creonte, rei de Corinto. Medéia, como vingança, provoca a morte da noiva graças a seu poder de magia e - auge da tragédia - mata as duas crianças, preparando, com a carne delas, uma comida que serve a Jasão. Paulo Pontes e Chico Buarque souberam reconhecer o perene na tradição, transportando os valores que ela contém ao tempo que vivemos. Se Medéia é uma história de reis e feiticeiros, Gota dágua é uma história de pobres e macumbeiros.