Geografia do além disserta sobre uma possível reapropriação cultural do judaísmo, e posteriormente do cristianismo de mitos e idéias sobre o desfecho escatológico e o local do mundo dos mortos oriundos do mundo mesopotâmico, grego, persa e indiano. Tendo como base a tradição rabínica e os textos bíblicos que versam sobre a temática, observa-se uma grande variação na crença e na idéia de existência de um porvir baseado na dedicação e doação a sua divindade Yahweh. Analisando as características apresentadas nos textos é plausível levantar a suposição sobre uma possível apropriação oriental que versa desde a fixação de uma divindade única no meio cultural judaico até a idéia de um porvir glorioso para aqueles que fossem fiéis a Deus na sua existência e o sofrimento para aqueles que negassem seus valores culturais e se contaminassem com as culturas pagãs circunvizinhas. Vale ressaltar que, mesmo num suposto judaísmo fechado aos intercâmbios culturais, as concepções de porvir, mundo dos mortos e desfecho escatológico acaba por usar idéias originalmente pagãs e imagens greco-orientais para se reafirmar culturalmente utilizando meios de escrita comuns na tradição grega da época, porém colocando em primazia o povo judeu (no qual aqueles que se mantivessem fieis seriam salvos, enquanto os infiéis seriam condenados ao castigo eterno). O campo temático da geografia da religião auxiliará na compreensão do processo de aculturação judaica, mesmo pregando um judaísmo tecnicamente fechado aos intercâmbios culturais a aculturação de temas orientais servem de combustível para a manutenção dos aspectos principais da sua cultura religiosa.