Para um cristão, a dor e o sofrimento humanos só se compreendem e se aceitam quando se descobre o seu sentido último. E esse sentido, ultrapassando a teologia da encarnação e o seu oposto, a teologia do fracasso, retira o olhar da dor em si, pessoal e intransferível, para fixá-lo no mistério da Cruz de Cristo. Vê-se então que a Cruz de Cristo e a cruz do cristão são uma só, a mesma, o prolongamento do drama do Calvário. Dá-se assim uma inversão do significado da dor na existência humana: o que era algo trágico e lúgubre transforma-se em bênção: encontrar a cruz é encontrar Cristo, fonte de ressurreição e horizonte aberto a uma alegria sem fim. Saboreia-se numa paz serena o que antes afligia e consumia. E o sofrimento, em vez de nos encerrar no seu poder de absorção, expande-se nas quatro direções da Cruz de Cristo: o seu comprimento, largura, altura e profundidade, para além do espaço e do tempo. Este livro deve ser lido devagar, não só pela sua densidade, mas porque compele a (...)