‘‘ A inexplicável beleza do riso de Silvana, as fugas compulsivas de Amália, a singular solidão de Pedro e de João, acontecimentos de uma clínica psicoterapêutica que nos apontam novos caminhos do agir e do viver. Bruno tece emoções através das zonas de indeterminação abertas por entre as histórias, por entre os percursos de escrita que confrontam elementos singulares da vida de personagens literários e de acontecimentos clínicos. Procedimento cartográfico que visa tocar o inapreensível da experiência vivida nos consultórios, nas ruas, nos postos de saúde e na intensidade dos encontros mutativos que vivenciamos com determinadas leituras. Como, no entanto, tocar no indizível da ação terapêutica que espreita, visita e transforma os corpos e as mentes dos navegadores - sem garantias - do mar da existência? Bruno nos apresenta, com maestria, o caminho da invenção. Só é possível transmitir o inapreensível criando na relação com o leitor um espaço que Winnicott chamaria de transicional e Deleuze e Guattari de intensivo. 'Fugir para frente', saltar para o futuro de um afeto gestado entre autor e leitor, que dispare novos percursos e cartografias, é a maneira de experienciar o que se poderia chamar de alegria. Bruno com sua vasta experiência em clínica e sua paixão pela literatura e pela filosofia, conduz o leitor para o território da alegria como aposta ética e política, mas não nos deixemos iludir pelo habitual uso da palavra. Sem cair no engodo que seria perseguir uma definição para a alegria, Bruno utiliza farta bibliografia literária e filosófica, em especial a obra de Espinosa, para apresentar o leitor às alegrias que se dão a ver na cumplicidade de um olhar em meio à tristeza sem fim, na variação vocal acompanhando recordações após um susto ou ainda na intensidade de poder esquecer, a dois, as amarguras de um passado/presente assustador. Alegrias irredutíveis que traduzem um aumento da potência de existir criativamente, marcando o mundo com a vitalidade possível que mitiga as dores. Por fim, o leitor tem em mãos um livro encarnado, repleto de possibilidades de ser, ele próprio atravessado pela alegria do transformar-se. Há melhor forma de se transmitir e se expor ao território complexo e fascinante da clínica? ’’