Literatura é sonhar acordado, viver, por um momento, não no mundo real, mas em um mundo inventado por nós. Essa é a sua essência, que, quase que oculta no romance realista, se desvela à luz do meio-dia na literatura fantástica, à qual tantos escritores latino-americanos fizeram suas contribuições. Marcela Fassy, que desde o seu primeiro livro, Animais Cinzentos, se filia a esse gênero, aposta, em seu Oniros, na natureza onírica da literatura. Os , (em grego onéiros, pl. oneíroi), isto é, os sonhos, são figuras mitológicas que, em Hesíodo, aparecem como filhos da Noite e irmãos do Sono, da Morte e da Velhice. São criaturas das sombras, a habitar a fronteira entre o caos e a forma. Os estudiosos, de Freud à neurociência, lhes atribuíram diversas funções. Gosto de pensá-los a partir de Susan Langer, para quem o ser humano possui uma profunda necessidade de simbolização, meio pelo qual o caos das impressões sensíveis se tornam para nós inteligíveis. Pois esse é, assim creio, um (...)