Este livro propõe uma aproximação entre a obra poética de Mallarmé e a obra pictórica de Cézanne. Ambas são consideradas "revolucionárias" no que diz respeito aos sistemas de representação na história da arte, mas são raras as reflexões que buscaram compará-las de forma consistente. Então o que é essa experiência que insiste em aproximar esses dois artistas com personalidades e obras tão distintas entre si - para além de sua óbvia coexistência num mesmo espaço-tempo histórico, a França do final do século XIX? Em primeiro lugar, é preciso aceitar o desafio de transpor as fronteiras entre as linguagens artísticas - a literatura e a pintura - e, mais especificamente, entre os movimentos estilísticos - o simbolismo e o impressionismo - que costumam obstruir as passagens de um pensamento que deseja dar conta dessas relações, conceituais e sensíveis, mais profundas. Num jogo instigante que busca revelar as interseções (sem tentar ocultar os abismos) existentes entre essas duas manifestações seminais da arte moderna, Olga Kempinska nos conduz através dos meandros de suas experiências de desconstrução dos códigos da antiga tradição artística e nos faz encontrar o "olhar espantado de admiração dos jovens poetas e pintores do fim do século XIX que reconheceram nos poemas de Mallarmé e nos quadros de Cézanne (...) obras mestras, depois das quais não era mais possível se escrever poesia e se fazer pintura como antes." Privilegiando o ponto de vista do fruidor - que se vê exposto à experiência de crise do olhar, transformado em agente de um percurso incerto -, a autora nos introduz num campo de experimentações e pesquisas que trazem ao mesmo tempo o frescor e a vertigem latentes no alvorecer da modernidade.