Com Domingos Pellegrini, o norte do Paraná ganhou um lugar de relevo na geografia literária brasileira. Em sua obra, sempre identificada às questões de terra, a região é vista em três momentos, correspondentes a três etapas da vida do autor. O seu primeiro livro, O Homem Vermelho (1977), de fundo político, transcorre em época de acelerada transformação social, com o desbravamento do interior paranaense. Os personagens são violeiros, peões, operários, caminhoneiros, vivendo experiências primitivas ligadas à terra. Conto emblemático dessa fase é “O Encalhe dos 300”, onde a terra roxa aparece como metáfora e no qual a chuva, deixando as estradas intransitáveis, obriga os caminhoneirosa uma parada não programada, que se arrasta por sete dias. O segundo momento da obra de Pellegrini se identifica com a evocação mágica da infância e a quebra dessa magia pela necessidade de ingressar no áspero mundo dos adultos, atmosfera que assinala seu livro de contos mais bem realizado, Os Meninos Crescem (1986). O ciclo se prolonga em obras posteriores, de forma obsessiva. A nostalgia de um tempo perdido caracteriza a terceira fase da obra de Pellegrini. O tema foi desenvolvido de maneira magistral em A Mulher dos Sonhos, no qual um viajante sai Brasil afora, em busca da amante que o abandonou. Ao encontrá-la é como se redescobrisse as coisas simples e essenciais da vida. A atração pelas coisas naturais, a identificação com a terra e os seres simples, de certa forma, se transfigura na linguagem de Pellegrini, extraída da fala do povo, marcando a sua escrita com um certo barbarismo e uma musicalidade selvagem e intensa. A ferro e fogo, ele marca seu lugar nas letras brasileiras, com uma obra que, como observa de Miguel Sanches Neto, "revela o fascínio e a violência do processo civilizatório".