Neste seu novo livro, a historiadora Maria Bernardete Ramos Flores chama atenção para os rumos controversos da modernidade. A originalidade da abordagem está na caracterização do movimento de retorno a uma espiritualidade perdida que marcou os mundos da arte na passagem do século XIX para o XX. Naquela época, o investimento na espiritualidade e na religiosidade revelado na criação de vários artistas confrontava o predomínio do pensamento racional e objetivo. O revival espiritual constituiu uma via para enfrentar os dilemas da modernidade. O livro tem como ponto de partida o diálogo com as obras artísticas de Xul Solar e Ismael Nery, respectivamente um pintor argentino e outro brasileiro que se projetaram na cena cultural a partir da década de 1930. A esse diálogo se junta a criação de outros artistas da mesma época, como Marc Chagall, Georges Rouault, Alberto Gleizes, do mundo europeu, e também o norte-americano Edward Hopper e a mexicana Frida Kahlo, bem como o poeta e dramaturgo Oscar Wilde e a escritora e jornalista brasileira Patrícia Galvão (Pagu). Ao final, a leitura nos conduz a reconhecer que o ponto de vista místico se associou historicamente ao espírito das vanguardas artísticas e a renovação das formas plásticas. Constata-se que o mundo da modernidade é diversificado e ultrapassa as fronteiras do racionalismo. De todo modo, o livro propõe uma chave de leitura do mundo do século XX a partir das relações entre arte e história.