Cassiano Ricardo estreou em 1915 e publicou o seu último livro de poemas em 1964. Meio século de poesia, com uma permanente e surpreendente capacidade de renovação. Conservador e tradicionalista na mocidade, seguindo os breviários do parnasianismo e do simbolismo, custou a aceitar o modernismo. Convertido, participou do movimento verde-amarelo, mais tarde transformado em "revolução da anta", que procurava interpretar o Brasil e ressaltar a sua originalidade cultural, desde o indígena até a imigração e a miscigenação racial. Essa filosofia marca Borrões de Verde e Amarelo, Vamos Caçar Papagaios, Martim Cererê, Deixa Estar e Jacaré, de títulos e temática nacionalistas, publicados entre 1925 e 1933. A partir daí, a poesia de Cassiano Ricardo muda radicalmente, adquire tensão e densidade, incorpora novas experiências vividas pela poesia brasileira, da geração de 1945 ao concretismo, numa ânsia permanente de renovação. A crítica se surpreende. Um Dia Depois do Outro (1947) revela um novo poeta, como se tivesse debruçado sobre si mesmo e "descoberto as fontes mais profundas de sua inspiração" (Manuel Bandeira), lirismo que se amplia e aprofunda nos livros seguintes, A Face Perdida e Poemas Murais. O poeta se preocupa com o destino da humanidade, mas também com a tragédia do indivíduo, no meio da multidão, sem deixar de lado o humor. A preocupação com o mundo contemporâneo, os rumos perigosos da história são o tema de Jeremias sem Chorar, livro que traz uma outra surpresa, a adoção da poética concretista, o abandono do verso tradicional pelo que o poeta denomina linossigno. O poeta envelhecera,a sua poesia, porém, rejuvenescia de forma permanente, na diversidade das técnicas e na visão do mundo, ajudando o leitor "a compreender o nosso tempo" (Carlos Drummond de Andrade).