‘‘ Uma beatitude transversaliza o livro de Bruno Vasconcelos de Almeida, de modo que ela vai sofrendo sutis mudanças em sua própria natureza a cada novo encontro, a cada nova máquina e/ou agenciamento. Essa essencial alterabilidade clínica da beatitude vai se distribuindo neste livro através de três grandes linhas de modulação, sejam aquelas advindas de virtuais e atuais, sejam as de conceitos que o autor mobiliza em companhia de Espinosa, Nietzsche, Deleuze e de outros, seja no decurso, na dimensão que se poderia dizer mais linear do trabalho, que levaria ao desfecho em que ela aparece de modo mais explícito no capítulo 5. Ele evidencia o quanto o autor participa de modalidades clínicas, seja como arrebatado admirador, seja como aprendiz, seja como leitor de inúmeras obras que problematizam a clínica nos trechos preciosos recolhidos de Winnicott, Bettelheim e Stern, seja como extrativista de mil e uma sensações da literatura de Onetti, Beckett, Coetzee, Durrell, Melville, Nabokov, Seféris entre outros tantos, seja como observador de variações que cintilam na clínica. Então, uma antiga e dificílima questão foi encontrando condutos em seu escrito: como trazer isso tudo para um enredado de teorias que, para não permanecerem em pura e frágil dispersão, teriam de comportar delineamentos ou nervuras conceituais suficientemente pregnantes, mas cuja presença deveria ser, ao mesmo tempo, delicadamente discreta, justamente para que algumas ideias aí fluíssem efetivamente a favor daquilo que essas beatitudes contagiantes nos obrigam a pensar? Essa pergunta, a meu ver, opera concretamente neste livro, e vejo nesse articulado um interessante vai e vem acadêmico que, tendo circulado por um fluxo de impessoalidade, nos lança em silêncios e alegrias. E agora volta esse vai e vem, não para descansar na recognição, mas para levar-nos com o livro para além do já dito, rompendo inércias e inúteis clausuras na clínica. ’’