A inquietação despertada por História da loucura na Idade Clássica se manifestou inicialmente pelo silêncio. Depois da polêmica do Estruturalismo, os críticos não puderam permanecer calados face às denúncias contra o humanismo da filosofia até então hegemônica e contra a afasia que a atingiu em decorrência da multiplicidade e da diversidade de acontecimentos que chocaram uma sociedade que se julga portadora de uma consciência política e ética enraizada no Iluminismo e em seu legado liberal ou revolucionário. O percurso que procurei retomar pela pesquisa sobre os processos de elaboração de História da loucura na Idade Clássica e de problematização das questões éticas decorrentes das inquietações suscitadas pelos resultados obtidos por Foucault em sua própria pesquisa me permitiu aceder ao debate pelo qual uma vida filosófica pôde se constituir em um tempo cujos eventos haviam erguido um muro alto e espesso frente ao qual o pensamento se deteve movimentando-se em torno do mesmo. Embora, por muito tempo, a doença mental tenha sido colocada em uma dimensão secundária no campo das investigações epistemológicas, o sistema de saúde pública tem se manifestado de maneira cada vez mais contundente sobre a taxa de incidência do sofrimento causado à população pelas ocorrências afeitas ao campo da psicopatologia e a necessidade de se investir na investigação dos fenômenos que lhe são afeitos. A recepção de Foucault no Brasil tem sido muito auspiciosa. Contudo, tem sido muito difícil a instituição de políticas para a educação, a ciência e a tecnologia voltados para os anseios de autonomia e descolonização intelectual entre nós. Esperamos contribuir para o aprofundamento desse debate e a formação de uma vontade política comprometida com essa causa.